O Histórico Palacete da Vila Amélia

O palacete da Vila Amélia foi construído em 1916, na chácara do imigrante português Antônio Martins. Em sua chácara produzia e vendia laticínios, linguiça, frutas, verduras, legumes, mel e o vinho que fabricava. A prefeitura de Nova Friburgo tombou e desapropriou o palacete.

                                                                      O Palacete da Vila Amélia finalizado em 1916

O belíssimo palacete da Vila Amélia, tem raízes na trajetória do imigrante Antônio Alves Pinto, nascido a 1° de julho de 1862 na região do Minho, em Portugal. Aos onze anos de idade, o jovem Antônio partiu para o Brasil na companhia de parentes. Estabelecido no Rio de Janeiro, torna-se funcionário sucessivamente das firmas de secos e molhados Arantes & Rabelo e Coelho Martins & Cia, localizadas no centro da cidade. Com o falecimento de Coelho Martins, Alves Pinto passa a fazer parte da sociedade, incorporando o sobrenome do antigo patrão e passando a assinar Antônio Alves Pinto Martins.

Em uma de suas viagens à terra natal, Antônio conheceu Carolina, com quem se casou em 31 de outubro de 1898, quando o casal já tinha três filhos. Aos 52 anos, após sofrer um acidente vascular cerebral, Pinto Martins muda-se com a família para Nova Friburgo. A decisão foi motivada não apenas por sua saúde frágil, mas também em razão da tuberculose contraída pelo seu filho Álvaro. A cidade serrana era conhecida pela salubridade de seu clima, uma estância de cura procurada pelos que padeciam dessa doença. Seu outro filho, Abílio, já residia na cidade como aluno interno do Colégio Anchieta.

Em 1914, Pinto Martins adquiriu da família Salusse a chácara do Relógio, também conhecida como chácara do Moinho, uma propriedade de aproximadamente 667.749 m². A atividade econômica de Pinto Martins na chácara, era a produção e comercialização de laticínios (leite, queijo e manteiga), charcutaria (linguiças de porco defumadas), frutas — vendidas frescas ou em compota —, hortaliças, legumes, café, mel e vinho. Tais produtos eram vendidos no Mercado Vila Amélia, que ficava dentro da própria chácara.

Na chácara, havia um extenso pomar com pereiras, macieiras, goiabeiras, canforeiras, jabuticabeiras, laranjeiras, caquizeiros, bananeiras, pitas e nêsperas. Cultivava ainda hortaliças e legumes; flores de corte como margaridas, cravos, bocas-de-leão e rosas; e no morro plantou arbustos de café. Criava gado bovino, porcos, galinhas, cabras e marrecos. O córrego do Relógio, que margeia a propriedade, era ladeado por videiras que se estendiam por uma pérgula de ferro, utilizadas na produção de vinho.

As videiras na margem do córrego do Relógio

No meio de uma enorme touceira de hortênsias, um majestoso sobreiro, árvore que Pinto Martins trouxe de Portugal e da qual extraía a cortiça para as rolhas das garrafas do vinho que fabricava. O mel produzido no apiário da chácara foi agraciado com uma comenda de ouro em Bruxelas, a medalha “Mel Flor de Tojo” — árvore do tojo também trazida de Portugal. Os frascos de mel comercializados em seu mercado receberam rótulos impressos com a medalha, conferindo reconhecimento ao produto. No fundo do palacete, em um galpão, defumava linguiças de porco em varais sobre uma fogueira de lenha. Um riacho, além de mover o moinho, acionava um monjolo onde pilava o café que cultivava.

Para maior comodidade da família, foi construído na chácara um palacete, inaugurado em 18 de maio de 1916, benzido pelo Monsenhor José Silvestre Alves de Miranda. A residência foi batizada pela família como “Villa Amélia”, em homenagem a Amélia, a única menina entre os oito filhos do casal.

Amélia, em sua primeira comunhão

O palacete possuía dois pavimentos ligados por uma imponente escada de pinho de riga, com um vitral importado da Europa acompanhando a escadaria. O segundo pavimento abrigava a área íntima, com seis quartos e um enorme banheiro. A casa era aparelhada com requinte: as louças de serviço, jarros d’água, bacias e saboneteiras eram todas da faiança portuguesa Bela Vista, com monograma AM de Antônio Martins, assim como as toalhas, guardanapos e roupas de cama.

Antônio Alves Pinto Martins faleceu em 25 de junho de 1924, aos 62 anos, na Vila Amélia. A matriarca, Carolina Martins, viria a falecer em agosto de 1945, aos 82 anos. Apenas um filho tentou continuar os negócios do pai, mas não obteve êxito. O inventário, finalizado em 1947, foi realizado de maneira pouco conciliatória, o que resultou em desentendimentos entre os membros da família. Na ocasião, o então prefeito José Eugenio Müller, que mantinha correspondência com Amélia, demonstrou interesse em adquirir a propriedade para instalar uma vila operária, dada sua proximidade com a fábrica Filó, que já havia comprado uma gleba da chácara. Diante da falta de acordo entre os herdeiros, a propriedade foi a leilão em 1951, sendo arrematada por um valor muito abaixo do esperado. A Câmara Municipal adquiriu parte da gleba, e doou o palacete à AFAPE (Associação Friburguense de Amigos e Pais do Educando).

Durante muitas décadas, o belo palacete alugado pela AFAPE ao governo Estado do Rio de Janeiro, abrigou a 151ª Delegacia de Polícia de Nova Friburgo. No pátio anexo, foi construída a carceragem. Em 2001, através de uma requisição da Promotoria de Proteção aos Interesses Difusos e Direitos Coletivos, foi realizada uma perícia na carceragem. De acordo com o parecer do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, a carceragem de Nova Friburgo foi considerada insalubre e lesiva a saúde física. A carceragem foi desativada e a delegacia transferida para outro local.

A Prefeitura de Nova Friburgo, através do decreto nº 2.042, de 9 de março de 2023, declarou de utilidade pública, para fins de desapropriação, o palacete da Vila Amélia. A área do imóvel de 2.669,00 m² e o palacete, foram avaliados em R$ 1.188.000,00 pela Comissão Permanente de Avaliação Administrativa de Imóveis do Município de Nova Friburgo. A desapropriação foi paga com recursos da Fundação Dom João VI. Até o momento, não se sabe o destino que terá o imóvel, que é tombado como patrimônio histórico municipal. Seguem três curtas-metragens que produzi sobre o palacete da Vila Amélia.